Hoje está marcando a terceira semana que estou sem utilizar o instagram. Essa é a minha tentativa nº4, até onde vou chegar dessa vez? Entre idas e vindas, na 1ª tenativa fiquei apenas uma semana longe da rede, logo voltei. Na 2ª, alcancei o marco de um mês e alguns dias, mas voltei de novo. A minha tentativa mais duradoura, até então, foi de cinco meses longe do instagram. Agora, me encontro mais uma vez nessa tentativa de manter uma distância, mas fico me questionando: é possível estabelecer uma relação saudável com a rede?
A vontade de desativar o meu perfil caminha ao lado da intenção de experienciar uma vida mais analógica. Não foi uma decisão radical (ou mesmo exagerada), é apenas uma busca pela compreensão de qual é o papel que a rede social ocupa na minha vida. Também não é nada definitivo.
Acredito muito no poder da internet no fortalecimento de vínculos pessoais, não dá para desconsiderar esse fato, inclusive o
da news Tira do Papel, trouxe uma reflexão maravilhosa sobre isso em uma de suas últimas edições:Fiquei pensando muito nessa reflexão, e fez muito sentido para mim. Não dá para enxergar só o lado negativo por trás das redes, todas tem seus vários problemas e dilemas, mas foi através delas que muitos relacionamentos se tornaram possíveis (inclusive o meu com o namorado - aconteceu lá no messenger do Facebook - em 2013).
Enfim, voltando aqui ao objetivo dessa newsletter, atualmente eu venho reconhecendo o Instagram mais como uma vitrine do que como um espaço para manter contato com as pessoas que não vejo há algum tempo. Também não é novidade que ele já deixou de ser um álbum de recordações. Então, todo esse meu desconforto em usar a rede com um propósito pessoal vem através dessa mudança que o aplicativo passou. Veja bem, de 10 posts que aparecem no meu feed, 5 são de pessoas que nunca vi (vídeos aleatórios), 3 são publicidade/anúncio e 2 são fotos/vídeos de alguém que sigo. Com isso, percebo que, nesse caso, o termo social não cabe mais depois de rede.
No entanto, considero a ideia de usar o Instagram como um portfólio profissional (abrindo um parêntesis, atualmente estou cursando Psicologia), suponho que é uma alternativa interessante para fazer networking e divulgar o meu trabalho. Acho que o linkedin também entra nessa jogada aqui.
Analógica em pleno 2024?
O que seria então essa experiência analógica que procuro? Sinceramente, também estou descobrindo. Eu já sou a pessoa que ama revelar fotos e montar álbuns, esse ato já faz parte da minha vida há muito tempo. Tenho tentado voltar a escrever mais no papel também, fazer diários dos meus dias, escrever sobre os lugares que visitei, as pessoas que conheci, os filmes que assisti, as leituras que me marcaram, e por aí vai. Minha avó materna, hoje com 91 anos, mantém o hábito de registrar a vida em cadernos há décadas. Ela anota tudo o que acontece em seus caderninhos, mas esses cadernos são secretos, não sabemos onde ela guarda, ela nunca deixou ninguém ler nada que está escrito ali. São dezenas de cadernos, é muita história registrada.
Quem já leu “A Casa dos Espíritos” de Isabel Allende, deve se lembrar do caderno de anotar a vida de Clara. Sinto que os cadernos da minha avó, são também de anotar a vida.
Para o próximo ano, criei a meta de anotar a minha vida também no papel, criar um caderno de recordações, aquela coisa bem adolescente dos anos 2000 de colar ingresso do cinema, papel de bala, entrada de shows, etc. Com isso, poderei me conectar de uma maneira diferente com cada momento vivido e guardar boas lembranças sobre eles.
Venho aqui atualizar que agora, quase caí na tentação de reativar o instagram para postar a minha retrospectiva do Spotify, mas consegui me conter hahaha foi difícil lidar com essa fome que o FOMO1 causa.
Outra ideia que tive e que quero implementar em 2024 é a de escrever cartas para mim mesma no futuro. A ideia é escrever uma carta na passagem de ano, para ser aberta daqui 5 anos (todo ano uma nova carta para 5 anos depois); também escrever uma carta no dia do meu aniversário para ser aberta no aniversário seguinte, e assim por diante. Acho que ler as nossas expectavtivas de futuro e também os nossos temores, são formas muito interessantes de pensar a vida. Muitas vezes, nosso maior medo se mostra tão pequeno depois que o tempo passou, quem sabe isso não me ajuda a lidar com a ansiedade?
Mas é isso, enquanto não chego numa conclusão que me satisfaça a respeito de estar ou não estar no Instagram, sigo offline. E caso queria experienciar uma rotina longe da tela, recomento muito que você também faça esse movimento de desativar por um tempo o instagram (ou qualquer rede que quiser - também já saí do facebook e do twitter), e veja como é uma ação curiosa e surpreendente.
Outras dicas e o que li, assisti, ouvi, em novembro:
Esse vídeo do Emanuel Aragão sobre o Instagram e “o fim da felicidade possível”;
Entrevista da pesquisadora e professora Giselle Beiguelman, para a Gama Revista: “Toda imagem que você faz, mesmo que não poste, alimenta uma rede de dados”.
Estou terminando a leitura do livro “Ioga” do Emmanuel Carrère. Que leitura boa! Deixo aqui uma das passagens que destaquei: “Expirar, no fim das contas, é soltar o último suspiro, é soltar a alma. Essa angústia alojada abaixo do meu plexo não é outra coisa além do medo da morte, e acho que é este o trabalho dos anos de vida que me restam: aprender a expirar.”
Também estou lendo o livro “Escrevendo com a Alma” da Natalie Goldberg. Um ótimo livro para quem, assim como eu, está começando a navegar nesse universo da escrita, mas muitas vezes se sente perdido e não sabe como seguir. Uma leitura tranquila e bem inspiradora!
Ouvi o novo álbum “Portas Raras”, da Marisa Monte, e que delícia viu?
“Eu quero a verdade que só me é dada através do seu oposto, de sua inverdade. E não aguento o cotidiano. Deve ser por isso que escrevo. Minha vida é um único dia. E é assim que o passado me é presente e futuro. Tudo numa só vertigem. E a doçura é tanta que faz insuportável cócega na alma. Viver é mágico e inteiramente inexplicável. Eu compreendo melhor a morte. Ser cotidiano é um vício (...).” (Clarice Lispector em “Um Sopro de Vida”)
É isso por hoje, obrigada por acompanhar até aqui! Nos vemos na próxima!
FOMO: sigla para o termo em inglês “fear of missing out”, ou seja, o medo de estar perdendo algo.
Querida Júnnia, me identifico demais com suas inquietações. Apesar de usar o instagram para divulgar meu trabalho, volta e meia me revolto e deleto o aplicativo! rs E por isso que a newsletter tem também ganhado espaço no meu coração, pois sinto que aqui o tempo é outro.
O retorno para o analógico e para o tempo da natureza tem sido, para mim, uma saída para lidar com o tanto de ansiedade que sou capaz de sentir... e penso que não podemos desistir de encontrar caminhos.
Já escrevo muito a mão e recomendo demais! E adorei a ideia das cartas, vou adotar! Eu uso um site (futureme.org) que faz este envio de acordo com o tempo que você determinou. Mas fiquei animadíssima para começar a fazer no papel <3
Ah, obrigada pela leitura do meu texto e a indicação. É sempre bom saber que não estamos sozinhas.
Um beijo carinhoso,
Bruna
Que delícia ler seu comentário! Também já me enviei algumas cartas pelo Future Me, aguardando quando elas chegarão por e-mail, vai ser uma grata surpresa. A ideia de escrever a mão me traz uma conexão diferente com a palavra, sinto que estou mais presente ali.
Amo ler você 💕 um abraço!